Sem formação a condizer com a profissão em causa nem prática com outro paciente que não seja este que aqui vos escreve, não tem pretensões a resolver os problemas de ninguém. Tenta resolver com maior ou menor sucesso os do seu único paciente que, dada a relação existente, nada poderá reclamar.
Se no processo aquilo que aqui se escrever ajudar outros pobres infelizes ... que sorte!

A todos aqueles que se mostrarem descontentes quer com os resultados da consulta quer, e sobretudo, com a leitura, receita-se apenas o nobre colega Jorge Bucay que se não vos ajudar poderá pelo menos satisfazer o vosso gosto pela leitura durante mais tempo que eu.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Cabra

O prado era de um verde imaculado salpicado por pequenas flores que insistiam em quebrar a monotonia.
Como sempre havia algo mais que, com uma paciência de anjo condizente com o imaculado branco que a cobria, ia fazendo deste imenso prado o seu festim.
Era assim todos os dias logo que o sol começava a sua curva descendente no céu. Iniciava o seu lento percurso junto as árvores que lhe permitiam abrigar-se do ainda acentuado calor do sol e afastava-se em direção a uma estrada secundária raramente utilizada, não porque a falta de asfalto o não permitisse mas porque não levava a qualquer lugar.
Aí se detia cortando rente a relva já curta de dias anteriores até que ela aparecia. Nos primeiros tempos fugira mas progressivamente foi perdendo o medo e agora já não prescindia dos carinhos que ela lhe dava. E assim ficava, sentindo o calor da mão dela afagando o seu pelo. Aproveitava cada minuto desde que ela estendia a toalha no chão até que ouvia a chegada de outro carro indicando que era hora de se ir. Não gostava dele.
E no entanto hoje o som era diferente e nesse dia ele não era o mesmo.
Do seu posto de vigia não assistiu à carinhosa entrega de corpos que sempre via. O contacto agora parecia mais rude e os seus corpos nunca ficaram nus. A duração essa foi bem mais curta e os gritos não de carinho mas de agonia cessaram rapidamente quando as mão daquele homem se fecharam no pescoço dela.
Era normal que ela ficasse num estado de dormência, parecendo saborear cada momento passado, enquanto ele se afastava. Até isso hoje parecia diferente. O seu corpo não deixava transparecer qualquer movimento e nem a sua aproximação para se despedir parecia surtir efeito.
Como que em tom de beijo afagou os seus cabelos com o seu focinho e depois afastou-se.
Já não lhe agradava aquele local ... amanhã iria pastar para outro lado

5 comentários:

  1. Agradeço a "dedicatória", poderia dizer que a Cabra se sente lisonjeada, ainda que, a história de início jovial, belo e encantador se transforme no decorrer num marasmo de repetida decadência. É pena, é triste, mais ainda com um final trágico. Não me parece que transpareça uma vontade e muito menos a desistência de uma "mulher cabra". Porque no texto é o animal cabra que "afastava-se em direção a uma estrada secundária raramente utilizada, não porque a falta de asfalto o não permitisse mas porque não levava a qualquer lugar."
    É certo que há estradas secundárias, todas elas levam a algum lugar, mesmo que não seja a local nenhum.
    Obrigada

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  2. Talvez para a cabra a estrada levasse a "local nenhum" mas havia quem a percorresse frequentemente, certamente porque a levava a algo que considerava muito especial.
    Deixemos a cabra com a certeza de uma próxima dedicatória para a "mulher cabra".

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  3. bom texto!!! não me parece que tal "cabra" merecesse um outro final. Os finais trágicos são cativantes e foi agradavelmente escrito

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  4. Bem vindo e obrigado "Anonimo". Após tão prolongada ausência deste meu blog é reconfortante saber que ele ainda está vivo. Talvez seja o momento de regressar e certamente este seu comentário terá dado uma ajuda.

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  5. boa sorte, espero sim que regresse...a vida é mm assim, não se deixe abater por comentários depreciativos (não construtivos) de quem não tem nada a dar aos outros a não ser soberba e a futilidade.
    tudo de bom

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