Sem formação a condizer com a profissão em causa nem prática com outro paciente que não seja este que aqui vos escreve, não tem pretensões a resolver os problemas de ninguém. Tenta resolver com maior ou menor sucesso os do seu único paciente que, dada a relação existente, nada poderá reclamar.
Se no processo aquilo que aqui se escrever ajudar outros pobres infelizes ... que sorte!

A todos aqueles que se mostrarem descontentes quer com os resultados da consulta quer, e sobretudo, com a leitura, receita-se apenas o nobre colega Jorge Bucay que se não vos ajudar poderá pelo menos satisfazer o vosso gosto pela leitura durante mais tempo que eu.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Fria como aço

A porta fechou-se atrás de mim silenciosamente, protegendo-me do frio noturno.
Estava escuro e apenas a lua cheia que brilhava através do vidro do quarto lhe dava alguma luminosidade. Era suficiente para que eu a vislumbrasse sobre a cama, transmitindo-me uma áurea de paz como só ela conseguia nas últimas semanas.
Sentei-me a seu lado. Durante longos minutos não me atrevi a tocar-lhe, apenas contemplá-la. A calma que agora sentia apenas seria abalada pelo que se seguiria.
Como que a medo, toquei-lhe. Nada sucedeu. Demoradamente, os meus dedos percorreram todo o seu corpo, calcando caminhos já bem conhecidos de noites anteriores.
Frieza era a única recompensa que meus dedos recebiam em troca. Era como se ela soubesse. Como se quisesse esfriar o calor que eu sentira quando pouco antes uma mão quente me percorria fazendo-me sentir uma alegria de viver que julgava desaparecida.
Tomei-a nas minhas mãos acariciando-a uma última vez. Hoje, o meu amanhã não seria decidido por ela.
Tirei a única bala que sempre estava no tambor e coloquei-a na gaveta.
Não era traição, era uma vontade de viver renovada que me fazia substituir esta amante fatal por outra que verdadeiramente me abria as portas ao desconhecido.

2 comentários:

  1. Essas tuas mãos, esses teus dedos orgulhosos percorrerão pela vida fora corpos merecedores de tais encantos.

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  2. Sejam esses corpos capazes de aquecer sob a influência destes meus dedos e serão deles merecedores.

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